segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Eu, meu aluno e a Internet: uma história a ser "teclada" com muitas mãos


Muito tem se falado sobre as tecnologias, seus impactos na sociedade, seus grandes benefícios e também malefícios. Naturalmente, essa realidade tem se refletido na escola, revelando uma grande diferença no modo de pensar e agir entre nós e nossos alunos. Há um divisor entre os nascidos antes e depois do computador pessoal (anos 80) e, principalmente, da internet gratuita e “hyperlincável” (anos 90). Nossos alunos, segundo o educador americano Marc Prensky, são nativos nesse mundo tecnológico e, nós, imigrantes.

Nossa forma de pensar e aprender, comunicar-se, registrar, relacionar-se, difere muito de nossos educandos. Enquanto nos comunicamos presencialmente ou por telefone, os planejamentos de aulas estão em cadernos ou folhas impressas, nossas pesquisas são feitas preferencialmente em livros, temos TV, CDs e DVDs para lazer, nossos alunos fazem tudo isto pelo computador com a Internet. Frutos de uma educação cartesiana e especialista, ainda realizamos as atividades de forma estanque, enquanto o jovem realiza tudo, preferencialmente, de forma simultânea. Uma cena comum nos lares dessa aldeia global: o adolescente fica no quarto, msn ativo, Orkut aberto, fazendo download de músicas em MP3, fala ao telefone convencional, passa mensagens pelo celular, olha um programa na TV, ouve música e com o material didático aberto ainda estuda para a s provas.

Toda esta diferença tem causado um estrondo na escola. É como se tivéssemos pessoas falando idiomas diferentes e ninguém se entende. Os professores reclamam de alunos indisciplinados e desmotivados. Alunos, por sua vez, consideram as aulas monótonas e sem “graça”. Qualquer semelhança com a sua escola ou alguma que você conheça não é mera coincidência... É parte da história. Estamos vivendo este desafio não porque somos atrasados ou incompetentes, mas pelo fato puro e simples de que não tivemos tempo de nos prepararmos para isto tudo. A tecnologia chegou e pronto. Rápida e definitivamente. Não tem mais volta.

E como fazer para diminuir esta distância com nossos alunos e passar a estabelecer uma comunicação mais eficiente e produtiva com eles? Estabelecendo pontes! E como se faz isto, meu colega? Permitindo-se ser imigrante ou, ao menos, turista neste mundo tecnológico. Temos que nos dispor a aprender o “tecnologês e o internetês”. É fácil? Isto depende de cada um. Sabemos que aprendizagem é processo e que cada um aprende no seu ritmo. E que todos aprendem. E por onde começar para ser, ao menos, um turista no mundo tecnológico?

Em primeiro lugar, é preciso disponibilidade. É necessário querer se apropriar deste conhecimento. Isso internalizado, os passos seguintes são simples e tranquilos. E não é necessário ir a escolas especializadas – os melhores professores estão em sua sala de aula. Esta é uma história que começa teclada a quatro mãos!

Aproveite o conhecimento ferramental com seus alunos para dominar a técnica. Transformar informação em conhecimento, construir valores e conceitos corretos, enfim, cabe a nós, professores, uma sociedade mais humana.

Vamos lá:

- Comece aprendendo sobre a ferramenta de e-mail. Instrumento fundamental de comunicação na web.

- Comece a navegar por sites e portais educacionais se afiliando aos mesmos. Nesses sites, você encontrará outros endereços interessantes, sugestões para aulas, trocas de experiências com outros docentes e um mundo de possibilidades pedagógicas.

- Depois, você pode montar um site pessoal ou blog. Os grandes portais oferecem ferramentas bem simples e gratuitas para montar o seu espaço na web. Exercícios, textos complementares, descritivos de pesquisas escolares, enfim, tudo fica hospedado na página pessoal e é acessado diretamente por seus alunos.

Como utilizar essa ferramenta de forma didático-pedagógica?

A tecnologia é um meio e não um fim. Ou seja, os recursos tecnológicos complementam todas as ações que já realizamos na escola, desde os livros, vídeos, feiras de ciências, teatros e tudo mais.

O essencial é perceber, com bom senso, o que é mais adequado para o momento atentando-se ao perfil e necessidades pedagógicas da turma, conteúdo a ser trabalhado, tempo disponível e aplicabilidade.

Tecnologia pressupõe planejamento. Nada de simplesmente ir ao laboratório e sugerir uma pesquisa livre. Isto é absolutamente improdutivo e perigoso. Você nunca sabe o que pode vir (experimente digitar “cavalo” num buscador de imagens e aterrorize-se!). O uso do laboratório de informática, seja para uso da Internet, softwares educativos ou aplicativos, deve ser oriundo de um conteúdo acadêmico. A aula nasce para atender um objetivo pedagógico e utiliza-se de alguns recursos educacionais, entre eles, os tecnológicos. Logo. o conteúdo é apresentado em sala de aula e ampliado no laboratório ou vice-versa – e o principal são os objetivos pedagógicos a serem atingidos.

Se realmente quiser propor aos alunos uma pesquisa, delimite a busca, indicando pelo menos cinco sites. Será produtivo e seguro para você e o grupo. Cada vez que realizar uma atividade pedagógica virtual, registre no caderno dos alunos. Exemplo: o conteúdo “Célula” da unidade 1 foi abordado no site http://www.talecoisa.com.br no laboratório de informática.

Permita que os trabalhos dos alunos sejam apresentados em sites ou blogs. Há ainda as webquests, uma metodologia específica para trabalho pedagógico na web. Você também pode pesquisar lista de fóruns e debates onde se discutem assuntos de seu interesse, inclusive os acadêmicos – um número enorme de professores se interessa em contribuir e trocar experiências entre docentes. Ainda existe a possibilidade de se desenvolver uma atividade colaborativa, envolvendo grupos de outras escolas e cidades. Seja imigrante neste maravilhoso mundo virtual e faça parte da realidade do seu estudante.

Danielle Lourenço é pedagoga e consultora em Tecnologia Responsável. Para saber mais: www.daniellelourenco.com.br

Fonte - JORNAL VIRTUAL PROFISSĂO MESTRE - Profissăo Mestre – Ano 7 Nº 101